segunda-feira, 11 de março de 2013

Dois anos de espera castigam o Litoral




Podiam ser cicatrizes, mas ainda são feridas abertas. Pas­­sados dois anos da tragédia que fez água e lama invadirem casas no Litoral do Paraná, as marcas da enxurrada ainda afetam a vida de muita gente. Apesar dos R$ 24 milhões já investidos, famílias continuam em abrigos e pontes não foram refeitas. Moradores de Antonina, Morretes, Paranaguá e Gua­­ratuba aprenderam a conviver com as consequências da grande enchente.
Para quem vivia em um amplo sobrado de mais 100­­ metros quadrados, em An­­tonina, a família do garçom Magno Azevedo se vê apertada em uma casa de dois quartos, dividida com outra família. A chuva continua sendo um pesadelo. A cada pancada, a água escorre por paredes, focos de luz e janelas.
O abrigo militar onde vivem 18 famílias era para ser uma morada provisória e o acesso ao local fica intransitável em dias de chuva. “Ninguém tem que nos dar nada. Mas depois que usaram a nossa situação para conseguir dinheiro, temos direito”, comenta o garçom. Ele, a esposa e dois filhos esperam que fiquem prontas as 88 casas em construção. Enquanto 18 estão quase prontas, outras não têm nem alicerce e terraplanagem. A previsão é de que todas as unidades sejam entregues até julho.
Para o pedreiro Rodrigo José de Freitas Junior, 35 anos, o bairro Batel, em Antonina, é sinônimo de esperança e desespero. Es­­perança porque é ali que ele trabalha na construção das casas destinadas às famílias atingidas pela enchente. Desespero porque é no mesmo bairro, a menos de um quilômetro da nova morada, que ele ainda reside com a família. A casa foi tomada pela lama há dois anos. É uma área de risco. A vizinha morreu na enxurrada. Freitas saiu às pressas e depois ficou um ano morando de aluguel. Não venceu pagar as contas e voltou para a casa, cheia de marcas de barro nas paredes. “Eu não durmo à noite, com medo”, diz.
Morretes
As 33 casas entregues para famílias de Morretes há três meses representam um alento. Estavam morando com parentes ou em um abrigo improvisado. Para Ana Cristina Pereira dos Santos Batista, o novo lar marca um recomeço. “Agora está bem melhor. Estou no que é meu”, diz. Seis pessoas vivem na casa de 36 metros quadrados. O lamaçal dentro do conjunto habitacional incomoda Marli Cardoso dos Santos, mas, de resto, ela não reclama. Também está feliz que saiu do abrigo com o marido e a filha.
Já Renata Pereira dos San­­tos, 19 anos, ainda não sabe se vai ganhar uma casa no conjunto habitacional. Continua na casa da sogra. “Não estou na lista. Disseram que eu não morava em Floresta [distrito atingido pela enchente]. Mas sempre estudei na escola de lá. É só verem”, diz. A situação também é complicada para o agricultor Reginaldo Batista. Ele continua vivendo em uma área de risco na região de Floresta, sem água e sem energia elétrica.

Pontes devem estar prontas em outubro
“Se fosse para fazer algo semelhante ao que estava lá, já teríamos feito. Mas estamos fazendo [obras] melhores e mais resistentes, capazes de suportar uma enchente.” Assim Maria Inês Prevedello Pereira, uma das responsáveis na Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística pelo trabalho de reconstrução no Litoral, explica como está sendo feita a recuperação na região.
Ela se refere, principalmente, à reconstrução de 19 pontes, que ainda estão em fase de escolha das empresas que farão as obras – a maioria em locais de difícil acesso. Maria Inês afirma que as estruturas são reforçadas e devem durar mais de 25 anos.
A demora na aprovação do plano de trabalho – que levou quase um ano para ser completamente autorizado pelo governo federal – complicou as obras de reconstrução. O trabalho também era muito. Foram tirados dos rios mais de 100 mil metros cúbicos de madeira – na maior parte sem valor comercial – que rolaram morro abaixo.
(fonte: Gazeta do Povo)

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